quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Rock Brigade - (11/2001)


Não foi só o público que se surpreendeu com a saída do Rodolfo (vocal) dos Raimundos. Canisso (baixo), Fred (bateria) e Digão (guitarra e agora vocalista), também foram pegos de calças curtas pela decisão do antigo colega de banda. O quarteto chegou a se declarar extinto, até que nas reuniões para o lançamento de "Éramos Quatro (CD que traz, além de três faixas de estúdio, o show que a banda fez acompanhando Marky Ramone, no ano passado, em São Paulo, e no qual tocaram exclusivamente músicas do quarteto americano ) , decidiu-se continuar como trio, com Digão nos vocais . Contribui para essa decisão o fato de uma das três músicas de estúdio escolhidas para esse disco ser "Sanidade", tema da primeira demo do grupo e que tinha o guitarrista acumulando as funções de vocalista - e acabou sendo regravada.. O susto com a saída de Rodolfo, a volta como trio, a emoção de tocar ao lado de seus ídolos e os planos para o futuro.. Os três falaram sobre tudo isso e mais um pouco numa entrevista exclusiva com a BRIGADE - e com a sinceridade que sempre foi habitual a eles.

Rock Brigade: O que aconteceu, afinal, com a saída de Rodolfo?

Digão: A banda acabou pelo susto, pelo fato de a gente ser o íntimo, a saber, que o cara estava fora. A gente não sabia nada, imaginava que, se fosse o caso, ele propusesse tipo "estou cansado de falar palavrão". Beleza, tudo pode ser conversado, mas não, de repente, o cara saiu, assim. E isso chocou a gente num primeiro instante. E agora? ... a gente precisava pensar .

Fred: Nós éramos quatro moleques que saíram de Brasília, depois de 10 anos, tudo conquistado, tudo normal, quando tudo entra nos eixos, acontece uma coisa dessas, cara, é assutador!!

Canisso: A gente não entra num casamento esperando o dia em que vai se separar. A gente sempre confiou muito uns nos outros. Claro que cada um sempre teve seus momentos de stress, mas isso se resolve, irmão que é irmão briga.

Fred: Não brigar é indiferença.

RB: Eu entrevistei você dias antes da notícia e nem podia imaginar que ia rolar isso... (a entrevista saiu na RB nº 178)

Fred: A gente não sabia nem no dia do lançamento do DVD (N do R: que foi depois daquela entrevista). Nas entrevistas ele chegava a falar do próximo disco.

Canisso: E no final ele saiu da banda...

RB: Mas qual motivo dele ter saído, afinal?

Canisso: Aí, tem que perguntar pra ele.

Fred: Passa pra próxima pergunta! (risos)

Digão: Ele já falou tanta coisa que eu nem se mais o que é, eu tentei entender, mas não consigo.

RB: Sobrou algum ressentimento, pelo jeito...

Fred: Se sobriu é só pra gente.

Canisso: A gente fez meio que uma terapia quando se reuniu finalmente pra tocar, pra fazer um set list e ensaiar com o Digão, como vocalista, e o Marquinho como novo guitarrista (N do R: da banda brasiliense Peter Perfeito, que vai fazer a segunda guitarra). Já que era difícil encontrar alguma explicação, a melhor coisa naquele momento era parar e tocar, rearranjar as músicas.

Fred: Se ficou algum ressentimento, vai ficar pra gente, o público não vai participar disso, só vai participar da alegria que o Raimundos sempre trouxe.

Canisso: E o ressentimento não é da saída, é da forma que aconteceu.

RB: Em algum momento, a banda chegou a encerrar as atividades?

Fred: Na verdade, nós tiramos férias de um mês. Aí a gente começou a se telefonar de novo e ficamos sabendo do projeto da gravadora (o disco éramos quatro). A notícia que chegou era que seria só cover do Ramones e a gente achou que não ia ser legal terminar como uma banda de cover, sendo que nós vendemos 3 milhões de discos com músicas próprias, então, nós questionamos a gravadora para procurar alguma coisa no fundo do baú, eu falei para eles não trancarem o baú e jogarem a chave fora.

Canisso: Essa parada do Ramones era pra cumprir contrato, era algo independente da gente, já que a banda naquele momento já não existia.

Fred: E, ironicamente, a única música inédita que tinha era sanidade, que tem o Digão nos vocais, a gravadora perguntou se haveria a possibilidade de entrarmos em estúdio para regravar a música e como nessa época a gente já estava se conversando, acabou rolando a volta como trio.

RB: E a gravadora, como reagiu a todo esse problema?

Fred: Normal

Digão: Ganhamos quatro artistas, obaaaa ! ( risos!)

Canisso: Agente até pensou que eles iam pegar o contrato e dizer: " vocês me devem isso e aquilo!!" , mas não, só queriam uma posição oficial da gente e pediram para ser a primeira opção dos nossos trabalhos solo.

RB: Marquinho vai ser um membro efetivo da banda ou será apenas músico contratado?

Canisso: O cara tem a banda dele, o Peter Perfeito, ele está emprestado pra gente, se ele vai continuar ou não nós vamos ver no futuro.

RB: O fato de vocês não terem um músico que seja apenas vocalista não vai fazer falta?não vai ficar faltando à figura de um frontman?

Fred: (apontando pro Digão) Maior frontman que esse? (risos), ele ocupa muito mais espaço! ( mais risos!)

Digão: Isso não acontecia com a gente, tanto que muitos fãs chegavam no Rodolfo e falavam : "E aí Digão, beleza??".

Canisso: O Raimundos no momento está numa fase de transição. Agora, o público vai ver interpretações do Digão para músicas que ficaram conhecidas com o Rodolfo, mesmo assim, você vai perceber algo familiar, porque a voz do Digão sempre esteve presente no nosso som, e isso vai dar o traquejo para que daqui seis ou sete meses possamos entrar em estúdio e registrar a parada nova.

RB: (para Digão).. Agora, pra você vai complicar bem...

Digão: Sabe que não, cara? no começo eu achei que era muito complicado, mas depois dos primeiros ensaios, eu comecei a gostar da coissa, eu me adaptei muito fácil, e o fato de ter outro guitarrista também ajuda muito, porque se a a gente continuasse como trio eu ia precisar adaptar um pulmão externo (risos). Ia ser um pra tocar guitarra com punch e outro pra cantar.

RB: Falando do CD, uma das três músicas de estúdio é uma versão quase punk de "Desculpe, mas eu vou chorar", de uma dupla sertaneja...

Canisso: Isso foi em função de um programa que existia na rádio Cultura de Brasília, chamado Cultt 22, e a idéia do programa era que as bandas gravassem músicas que jamais tocariam, sacou? foi por isso que a gente botou essa música! .

Canisso: Foi tirando uma dos caras, mesmo o Rodolfo, canta zoando muito !

Digão: E eu acho que foi a partir daí que começaram as encomendas malucas pra gente, sabe como é né, de vez em quando botam a gente numas roubadas e a gente se sai com o maior jogo de cintura.

Canisso: Cronologia das versões do Raimundos: desculpe mas eu vou chorar, ando jururu, Missão Impossível...

Digão: E o mais legal é que a gente se sai melhor quando é uma música que não tem nada a ver conosco, a gente se dá bem pegando uma pedreira e fazendo uma... como que é o nome daquela estátua que não tem os braços??

RB: Vênus de Milo!

Digão: é isso!

Fred: A estátua já vem quebrada! (risos)...

RB: Digão, por que você preferiu gravar a nova versão de Sanidade usando microfones de palco ao invés dos microfones de estúdio?

Digão: Eu tinha acabado de almoçar, tinha comido pra caralho, estava embuchado (risos) e me vi sozinho com aqueles microfones na sala...Aí eu disse " calma lá, né véio? uma coisa de cada vez!" (risos) , eu fiz como se estivesse no palco e aí rolou legal.

RB: O que vocês acham da promoção que vem com o CD (N do R: O CD vem com uma promoção que permite a quem assinar determinado provedor de internet receber, de graça, um single inédito da banda)?

Fred: Cada gravadora está buscando um caminho para tentar melhorar as vendas, seja diminuindo o preço ou oferecendo brindes, eu não sei se o CD está muito caro ou se a gente está muito fudido, porque se formos ver o preço do CD lá fora, é de 20 ou 25 dólares , veja, eu não estou justificando, e eu acho que essa promoção da gravadora é um caminho válido, um bom teste .

RB: Como foi tocar com o Marky Ramone? deve ter sido uma experiência muito especial pra vocês, que sempre foram fãs de Ramones.

Fred: Bem, eu só bati fotos...

RB: Não foi um tipo de "coito interrompido" pra você?

Fred: (risos) Cara, eu nem me incomodei, os três estavam que nem crianças na Disneylândia, não seria eu que ia barrar, nunca, cara!!! de jeito nenhum ! e eu fiquei batendo fotos, como ninguém podia subir no palco, eu fiquei batendo fotos para os veículos de imprensa, tirei foto pra todo mundo (risos) ! além disso, quando tem algum artista internacional que toca com a gente, eu gosto de ver, engraçado isso né? seria normal a pessoa querer tocar, mas eu sou muito espectador.

Canisso: Mas tocar com o cara foi do caralho! .

Digão: E os ensaios, foram muito legais, eles deviam ter sido gravados, também. Não teve nada que acertar, um de nós chamava a música, ele entrava e ia até o fim, acho que a gente ensaiou a vida inteira, ele lá e nós aqui.

Canisso: Até hoje, ouvindo o CD, eu me arrepio, veio!

RB: E agora, o que vem?

Digão: A turnê do novo Raimundos, com o repertório já conhecido, ainda sem músicas novas.

Canisso: São 38 músicas a 250 kilômetros por hora! (risos)

Digão: Mas material inédito só deve rolar no ano que vem, porque seria muito complicado pra mim ter que gravar um trabalho novo e já ser o vocalista, eu quero pegar calo, quero ir pra estrada, pular de um lado pro outro, cantar, mostrar esse outro lado que eu sei que tenho dentro de mim, sacou???

RB: Bem pessoal muito obrigada pela entrevista...

Digão: Peraí, eu quero falar mais uma coisa: o Canisso está arrebentando no baixo, meu irmão, a gente foi gravar e ele fez a parte dele de primeira, fazer o que esse cara faz, com a pegada que ele tem, não é pra qualquer um, na verdade eu falei que ele não tocava bem na última entrevista pra BRIGADE, porque eu estava chateado, é que ele tinha caído com a minha moto e eu estava puto com ele! (risos)

Canisso: Agora eu gostei, agora ficou legal.

Fred: Beija! Beija! (risos)

Creditos: Antigo Site Raimundomaniaca...

Obs. Caso alguém queira repassar a matéria não há problema algum, basta citar o Bau do Raimundos como fonte. Obrigado por ajudar a divulgar nosso trabalho.

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