quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Ultimo Orgasmo - Correio Braziliense



O Último Orgasmo

Verão de 1987. Rodolfo, Digão e Canisso passavam as tardes em casa, sem nada para fazer. Já se interessavam pela música, mas nem sonhavam em montar uma banda juntos. Rodolfo era guitarrista do Royal Street Flash e Digão, seu vizinho de rua na QI9 do Lago Sul. Canisso também morava ali perto, na QI7. Os amigos preferiam se reunir na casa do Digão, aonde aos sábados rolava ensaio da Filhos de Mengele. Durante a semana, os instumentos ficavam parados e chamaram a atenção dos jovens, que começaram a tocar para espantar o ócio. “Quando os Raimundos começaram, nunca tivemos a pretensão de ser como os Filhos de Mengele, que estavam no auge”, lembra Canisso, com uma memória impressionante para as histórias de 20 anos. Hoje, a partir das 18h, dois fundadores de uma das bandas brasilienses que mais alcançara, sucesso no cenário nacional voltam ao palco para relembrar as duas décadas de carreira.
Apesar da formação do grupo ter sofrido mudanças durante os anos, eles prometem uma apresentação emocionante para quem acompanhou os altos e baixos de os Raimundos. “Se a banda é um casamento, o show é o sexo enquanto o orgasmo,o público cantando junto”, compara o baixista Canisso. Além dele e de Digão, único participante que nunca saiu da banda, fazem parte da nova formação o guitarrista Marquim e Caio Cunha, baterista da cena underground que já participou dos Sapatos Bicolores e Deceivers.
Juntos, os Raimundos esperam sentir um prazer incomparável na noite de hoje. “Tocar é muito bom é a consagração do artista” diz Canisso, que voltou ao grupo neste ano. “Não estamos correndo atrás do sucesso, nem de nada. A gente quer a conseguência”, avisa o vocalista Digão. “Temos um patrimônio de 14 anos de músicas que todo mundo canta. Por que deveríamos parar?”, questiona Canisso.
A apresentação no teatro de arena do Cave, no Guará, pretende ser a primeira de uma turnê pelas cidades do DF. Para que tudo se acerte, só falta fechar a parceria com a Secretaria de Cultura. Como ingresso, o grupo vai pedir que o público doe brinquedos ou alimentos, dependendo da necessidade do lugar. “Ninguém faz nada pela cena artística, só pelo próprio umbigo”, critica Canisso. Para ele, o show de hoje pode reunir um grande número de fãs. “Outro dia nos apresentamos em Sobradinho e a entrada custava R$ 2. Mesmo assim, o pessoal preferiu ficar na porta bebendo cerveja. Se eles não pagam, fazemos de graça.” Antes deles, sobem ao palco as bandas Genéricos, Colina, Combustão Espontâneo, Na Lata e Brazilian Blues Band, além das DJs Telma & Selma. A entrada será autorizada mediante a doação de um livro em bom estado, que fará parte do acervo da biblioteca pública do Guará, ainda em faze de construção.
Longe de Rodolfo
O show dos Raimundos de 20 anos de estrada celebra uma carreira cheia de momentos curiosos. Para começar, a forma como a banda surgiu. Sem querer, como uma brincadeira de garotos de classe média, o grupo começou a fazer cover dos Ramones em festinhas de amigos. A média era de um show a cada dois meses, realizados ás custas da colaboração dos amigos que emprestavam os equipamentos e ajudavam na produção. “A gente esquecia as músicas e tinha que ensaiar tudo de novo”, conta o baixista. A primeira apresentação foi na casa do avô de Gabriel Thomaz, hoje vocalista e guitarrista dos Autoramas. “A gente não sabe direito se foi reveillon de 1988 ou 1989”, acrescenta Digão.
Na época, a cena musical dos anos 1980 já estava perdendo força. “O pessoal falava que a vez era do Rio Grande do Sul. O sucesso era do TNT, Garotos da Rua e Engenheiros do Hawaii”, comenta o vocalista. Assim, disputando o cenário com os gaúchos, os Raimundos tocaram sem muita força até 1990, quando deram uma parada. Dois anos depois, o mercado de Brasília se revitalizou, com a formação dos Nativus, hoje Natiruts, e Maskavo Roots, bandas de reggae daqui ganhava visibilidade nacional.
Depois da fama, veio a decisão de Rodolfo de abandonar o grupo. Apesar de ter anunciado que não havia deixado os Raimundos para se tornar evangélico, muitos estranham a mudança do artista, agora membro da igreja Bola de Neve. Hoje, seis anos depois, Canisso afirma que eles mantêm uma amizade, ou pelo menos uma trégua, como define. “ A última vez que o vi foi há 2 meses no velório do pai dele. Penso no Rodolfo como um amigo daquela época. Se ele quiser fazer parte dessa consagração dos 20 anos, as portas estão abertas.”

Obs. Caso alguém queira repassar a matéria não há problema algum, basta citar o Bau do Raimundos como fonte. Obrigado por ajudar a divulgar nosso trabalho.

1 comentários:

Unknown disse...

Eu tenho essa reportagem guarda em algum lugar...

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