Hoje pode-se dizer que os Raimundos são uma banda consagrada. Já se passaram sete anos, desde o lançamento do primeiro CD da banda. Ela passou de grata surpresa vindo de Brasília, para se tornar uma das maiores representantes do rock brasileiro dos anos 90, influenciando toda uma nova geração de bandas. Depois do grande sucesso com seu último CD, "Só no Forevis", os Raimundos estão de volta, lançando seu sexto disco, o "MTV ao vivo", o primeiro CD ao vivo da banda. Com muita bagagem nas costas, após anos de sucesso, Fred, baterista dos Raimundos, conta tudo sobre o novo disco, suas influências, histórias da banda e projetos futuros.
AQUI! - O que levou a banda a gravar um CD ao vivo?
FRED - Na verdade tínhamos algumas datas marcadas do "Só no Forevis". Decidimos então, gravar os shows dessa turnê. Já que tínhamos testado o repertório pra caramba. E como já tínhamos cinco CDs lançados, nada mais justo lançar um ao vivo agora. Como a gente tinha colocado seis singles do "Só no Forevis", isso fez com que a turnê proporcionasse esse CD ao vivo. Fizemos tantos shows dessa turnê, que quando fomos gravar o show, não tinha mais aquela coisa: "Caramba hoje tá gravando. Não, hoje tá gravando também..." Só isso.
AQUI! - Qual foi o critério para a escolha das músicas?
FRED - Cara, o repertório do show não mudou nada para o CD. O show tem 2 horas e 30 minutos. O show da turnê do "Só no Forevis" já era uma coletânea. Os shows anteriores já eram uma pré-produção. Bem, se demorássemos mais, iria ser muito mais difícil escolher as músicas para o show e conseqüentemente para o CD.
AQUI! - E, agora, você acha que um ciclo foi fechado com esse CD?
FRED- Na verdade não vejo grandes mudanças. O Raimundos não mudou nada. Tanto que nos shows, as músicas do "Cesta Básica", que foi o CD mais porrada nosso, convivem junto com o do "Só no Forevis" numa boa. O "Só no Forevis" possibilitou uma turnê certa, né? Vários singles na rádio. Acho que isso possibilitou muito este CD ao vivo dos Raimundos. Fizemos um monte de programas de TV com o "Só no Forevis". Nós achamos que o rock merecia o seu espaço e começamos a fazer programas, que bandas de rock não estavam fazendo. Demos a cara pra bater, mesmo. Na verdade nós fizemos tudo que queríamos. Se o próximo CD vier só com peidos, nós iremos fazer (risos). No nosso contrato temos liberdade pra fazermos, pelo menos, dois CDs do jeito que a gente quiser.
AQUI! - Fala um pouco sobre a versão para "20 e poucos anos"...
FRED - Na verdade, a MTV estava com um projeto para uma nova novela. Eles achavam que os Raimundos tinham uma identificação com o público do canal. Eles chegaram com a opção da música do Fábio Jr. E nós fizemos a versão pra ver como iria ficar. E acabou que nós gostamos muito e a MTV mais ainda. Bem, nós tínhamos a escolha de falar, "Olha não ficou bom, e não é pra gente". Mas acabou que nós gostamos muito, e entrou até no CD como faixa inédita.
AQUI! - O mais engraçado é que muita gente não sabia quem tocava e nem de quem era a música...
FRED - É verdade. Muita gente não sabia. O engraçado é que as pessoas gostavam da música. Mas depois começou a rolar o preconceito por ser uma música do Fábio Jr. E esse preconceito a gente já vinha vendo com outras músicas, desde o "Só no Forevis". As pessoas que gostam de rock ficam reclamando: "Pôxa, na rádio e na TV só rola a mesma coisa". Mas quando uma banda de rock vai na TV, reclamam também. Rola uma incoerência muito grande e o preconceito também é muito grande por parte do público. Existe aquela coisa: tocou na rádio ou apareceu na TV, não serve e não gosta mais. Mas vivem reclamando do que rola na rádio e na TV.Muita gente ficou falando que "agora eles vão aproveitar com mídia". A letra de "A mais pedida" dizia exatamente o que nós iríamos fazer. Foi anunciado, vamos botar o pé na porta e vamos invadir. A idéia era exatamente essa. Nós nunca falamos ao contrário. Nós falamos que iríamos entrar de assalto mesmo em todos os lugares. Nós queríamos enfiar pela goela abaixo e mostrar para as pessoas que o rock em português é de boa qualidade também. Então, tem que ter espaço. E nós conseguimos isso. Ponto pra gente e pra todo mundo do rock. Tem que dar opção para o povo, para eles saberem o que é bom e o que é ruim.Alguém tinha que botar a cara pra bater, né. E nós decidimos dar a nossa pra bater. Bem, nós estamos apanhando até hoje. Mas um dia as pessoas vão reconhecer que foram muito radicais com a gente. E essas pessoas vão ver que nós continuamos a mesma banda. A tendência é achar um pouco diferente, mas mudar o estilo não.
AQUI! - Por que vocês decidiram não tocar no Rock in Rio?
FRED - Na verdade, desde agosto eu já era contra o Rock in Rio. Eu lembro que o nosso empresário tinha falado que provavelmente nós iríamos ser convidados para o festival. Cara, tudo bem que o Rock in Rio é um festival grande, mas eu posso te dar mil explicações do porquê não tocar nele. Só vou falar alguns pontos. Um é que o Raimundos iria ser mais ou menos arroz de festa. Nós já fizemos todos os festivais importantes do Brasil. Não vejo esse negócio que o Raimundos tinha que estar lá. Outra, Raimundos teria 40 minutos em que nós não iríamos usar o nosso cenário, onde o som não vai estar perfeito, a luz também não e nada vai estar perfeito. E acho que seria um desrespeito com o público da gente. E tem mais: festival de rock não se mistura com política. Tem muita coisa envolvida. A marca Rock in Rio é muito conhecida. Eu acho que quase no mundo inteiro. Cara, é o maior festival da América Latina. E esse slogan "Por um mundo melhor", pôxa, eu também quero um mundo melhor, mas não precisa anunciar. Essa ajuda beneficente é de praxe, e o 5% é pra isenção de Imposto de Renda. Eles não estão fazendo nada de mais do que iria ser feito . Pôxa, para "um mundo melhor", muito bonito. Não precisa chamar as pessoas para doar os 5%. Já seria doado. E o fato da pessoa ter comprado o ingresso faz com que ela pense que já está isenta de qualquer coisa que possa fazer pelo próximo. Tipo: "Ah! Comprei o meu ingresso, e já estou ajudando". Na verdade não é isso, essa pessoa não vai ter participação nenhuma nisso.Bem eu não estou falando para as pessoas não irem ao Rock in Rio, não é isso. Vão ao Rock in Rio, vai ser muito legal, mas não pra gente. Não estou fazendo campanha contra. Acho que as pessoas têm que ir mesmo. Vai ser do caralho. Mas, infelizmente, não para os Raimundos.
AQUI! - Quais as bandas que você anda escutando?
FRED - Putz!! Cara, lá fora tá difícil de falar pra você. Vou generalizar. Mas é um pouco sem querer. Nunca vi tanta pobreza.
AQUI! - Mas nos Estados Unidos o que manda é o Rap, né?
FRED - Mas nem o Rap de lá tá tão legal como antigamente. O Rap nacional é muito melhor. O Rap americano tá muito numa mistura de Backstreet Boys com... sei lá. Tá horrível! Cara, passei um mês lá. E nada mudou, a música que tá rolando é igual a de antes. Tá tudo muito parecido.
AQUI! - Você acha que vai acontecer alguma coisa de bom?
FRED - De bom, acho que está acontecendo aqui. Tá uma pobreza total lá fora.
AQUI! - E na Inglaterra?
FRED - Lá a coisa é mais eletrônica. Nada contra, mas não curto. Não tem nada surgindo de novo. Bem pelo menos nos EUA. O que estou escutando mesmo são as bandas nacionais.
AQUI! - Quais?
FRED - Parece bairrismo, mas eu estou escutando o novo do Rumbora. O disco é meio difícil quando você escuta a primeira vez, depois você escuta mais vezes. Putz! É muito legal. Muito legal, mesmo! Já é um CD clássico dentro do meu carro. Tem o CPM 22, de São Paulo, que ainda não tem gravadora. E é muito bom também.
AQUI! - O que você acha da influência dos Raimundos em relação às bandas novas?
FRED - Hoje em dia rola a influência, mas não cópia. Hoje no Brasil a galera está tendo muito mais influência das bandas nacionais do que das estrangeiras. Eu acho isso ótimo. Pôxa, pelo menos não tá copiando uma banda gringa. O que eu vejo é que bandas nacionais, apesar de influenciadas, tem uma coisa muito própria. Nós mesmos temos influência dos Ramones, mas nós não somos os Ramones. Nós temos uma coisa nossa. Teve uma época em que as gravadoras estavam procurando um novo Raimundos, um novo Planet Hemp, um novo Skank. Mas acho que elas quebraram a cara. Acho que o Skank foi o mais bombardeado. Todas as gravadoras queriam um Skank. Com Raimundos já foi mais difícil. Bem, o fato das letras falarem de besteira, mas com certa consistência, não é fácil não. É uma das coisas que eu sou fã do Rodolfo, sabe. Toda banda que aparece como os Raimundos soa muito boba, débil mental. Eu gosto de como o Rodolfo escreve. Ele pode escrever a maior besteira do mundo, mas ele faz de uma maneira consistente. Isso tudo que aconteceu com Raimundos de conseguir horário nobre na TV e outras coisas importantes, independente disso, nós aprendemos na estrada. Tipo vamos pegar o carro do Fred, sem embreagem mesmo, e vamos para o Rio de Janeiro (show no Circo Voador, festival Super Demo com as bandas: Pravda, Skank e Raimundos ). Bem, tem muitas histórias. Hoje em dia a galera se junta pra formar uma banda, e já quer gravar um CD. Pôxa, vai fazer show.
AQUI! - E a amizade com outras bandas? Existe?
FRED - Uma das coisas que eu acho é que o estilo musical não tem nada a ver com amizade. Não se misturam. Pôxa, só porque o cara é pagodeiro você não pode ser o melhor amigo dele? Mas na hora da diversão o cara vai escutar o seu pagode, e você vai escutar a sua podreira. Brasília é muito assim. Você acaba ficando amigo de todo mundo.
AQUI! - Vimos o show do Super Demo no Circo Voador que você falou. No final opessoal do Skank convidou todas as bandas do festival pra participar. Rolou um clima maneiro entre as bandas naquele dia...
FRED - É muito fácil fazer amizade com o pessoal do Skank. Os caras são gente boa pra caramba. Hoje em dia o Haroldo (baterista do Skank) é um dos meus melhores amigos.
AQUI! - Antigamente rolava muitas entrevistas de bandas falando mal umas das outras, né?
FRED - Lembro que quando saiu o "Só no Forevis", tava todo mundo falando mal dos pagodeiros por causa da capa do CD. Na verdade não era. Era uma sacação mostrando o que estava rolando na mídia. Na verdade, havia três opções, que eram: o pagode, a música baiana (axé music) e o sertanejo. Bem a música baiana teria que ter uma loira e uma morena. Bem, o Canisso não iria encarar uma loira e nem eu seria uma morena do "É o Tchan" (risos). Não iria rolar, não tinha como. O sertanejo é dupla e nós somos quatro. E o que mais cabia nisso tudo era o pagode. Mas a sátira não foi ao pagode. O que a gente queria era pegar um ícone muito forte. E só um pagodeiro não entendeu isso. O resto entendeu. Adoraram a brincadeira, viraram amigos da gente. Teve uma vez que o Belo foi num show nosso no ATL, e nós achamos o máximo. E o cara entendeu o que nós queríamos passar no CD.
AQUI! - E você ? Você gosta de pagode?
FRED - Na verdade, eu não posso dizer que eu não gosto. Toca tanto nas rádios, que você acaba aprendendo a cantar alguma coisa. Mas eu não tenho CD de pagode em casa.nem pretendo cantar alguma coisa. Mas eu não tenho CD de pagode em casa.ndendo a cantar alguma coisa. Mas eu não tenho CD de pagode em casa.ndendo a cantar alguma coisa. Mas eu não tenho CD de pagode em casa.ndendo a cantar alguma coisa. Mas eu não tenho CD de pagode em casa.ndendo a cantar alguma coisa. Mas eu não tenho CD de pagode em casa.
AQUI! - Existe planos de criar um selo ou produzir alguma banda?
FRED - Cara eu tinha. Mas eu não tenho tempo. Tenho vontade de produzir também, mas a falta de tempo é muito grande. Já até fui convidado, mas não vou pegar um projeto que eu não vou dar conta.
AQUI! - A banda já tem planos para o próximo CD?
FRED - Ah! Tem com certeza. Este ano entraremos em estúdio. E todo mundo agora tá falando: já podemos esperar o acústico. E não é nada disso. Pôxa, acho que esse disco foi mais para comemorar a nossa carreira. Mesmo que o presente fosse só pra gente mesmo. O presente é o CD ao vivo. E não terá seqüência. Será inédito.
AQUI! - Fale mais do novo CD.
FRED - Esse CD tá servindo para mostrar músicas que não tocaram na rádio. Que não tiveram tempo para ser trabalhadas na rádio. E, também, tem aquela coisa: vai mostrar para o público que conhece o "Só no Forevis" as outras músicas dos outros CDs. E nós temos consciência que 60% das pessoas vão continuar comprando os CDs e indo ao show, conhecendo o nosso trabalho. E tem 40% que só querem ouvir a tal música que toca na rádio e acabou.Essa popularização dos Raimundos não foi prejudicial. Se nós ganhamos um fã, já valeu. E pelo menos deu pra mostrar que CD de rock dá para as pessoas curtirem e terem opção musical. Pôxa, tem várias bandas boas por aí , é só darem chance para chegar ao público.
AQUI! - Vocês tem alguma intenção de uma carreira no exterior?
FRED - Temos. Na verdade nós estamos sempre fazendo show na Espanha, Portugal, Japão...
AQUI! - E é legal? Tem receptividade?
FRED - Tem. No Japão é casa lotada. Bem, o Japão é a maior colônia brasileira. É a mesma coisa do que estar tocando aqui. Casa lotada. Quando nós chegamos no aeroporto o fã clube tá sempre lá. É super legal.
AQUI! - E CD em Espanhol?
FRED - Nós fizemos uma versão do "Lavô Tá Novo" (terceiro CD da banda). A música escolhida foi "I saw You sayng". Mas ficou tão ruim, que preferimos deixar como estava no original mesmo.
AQUI! - Você sendo um morador do Rio de Janeiro, como vê a violência na cidade?
FRED - Cara, a capital saiu daqui, mas ainda continua sendo o centro das atenções. São Paulo também faz parte do centro das atenções. Aí, quando acontece alguma coisa, vai para todo país. Rio e São Paulo são vitrines para tudo, até para violência. E as estatísticas falam que São Paulo é muito mais violento do que o Rio de Janeiro. Bem, no Rio de Janeiro todos sabem de onde vem, e o porquê da violência, mas em São Paulo não.
AQUI! - O que você acha dessa guerra Napster x Gravadora x Artistas?
FRED - Acho válido para as bandas que não têm gravadora. Só acho perigoso olhando para o lado empregatício da coisa. Tem as pessoas da gravadora, que fazem essa máquina trabalhar. Isso acho que tinha que ser preservado. Tem o cara que faz a capinha, que leva para as lojas e outras mais. Eu acho legal o Napster, é mais uma opção. Eu acho que as pessoas têm que ter opção.
AQUI! - Você vê alguma solução?
FRED - Não. Quando eu estava nos EUA eles fizeram um código para computador pra as pessoas não violarem. Mas conseguiram burlar tudo. Na verdade, é muito difícil brigar contra isso. Tem que haver um bom senso.
AQUI!. Você tem o Napster?
FRED - Não, não tenho. Acho até legal pra pesquisar. Mas quando me falam que banda tal é legal, eu prefiro ir na loja e comprar o CD. Ele é áudio visual. Eu gosto de ver a arte gráfica, quem tocou nele, essas coisas, né?
AQUI! - O que você gosta de ver na Internet?
FRED - Quase não entro em páginas. O que eu faço é ver meus e-mails. Ah! Vejo site de sacanagem, se eu falasse que não estaria mentindo (risos). Vejo também o site dos Raimundos pra ver como está.
AQUI! - Você vê alguma coisa de instrumento? Bateria?
FRED - Não vejo, não. Já sei todas as informações de bateria. E o meu contato com a bateria é nos shows mesmo. Só toco na hora do show. Sou muito mais vagabundo do que anos atrás.
AQUI! - E as influências como baterista?
FRED - Cara, eu comecei tocando bateria quando um amigo me mostrou o vídeo do The Police. Pôxa, aí eu falei: que maravilha! O estilo de tocar do cara, a armação da bateria. Tem um outro baterista que é o Mitch Mitchell (Jimi Hendrix Experience) que é uma outra grande influência.
AQUI! - O que você gosta de fazer quando não está com os Raimundos?
FRED - Gosto de ficar na minha. Descansar. Gosto de viajar adoro mato, adoro serra. Na verdade só não estou morando num lugar desses, porque minha mulher não quer. Por mim eu estaria morando numa serra. Meu sonho é ter uma casa em uma montanha.
AQUI! - Você viu algum filme que possa indicar pra galera?
FRED - Filmes? Não lembro o nome de nenhum agora. Pra falar na lata, não lembro.
AQUI! - E livros?
FRED - Gosto de livros jornalísticos. Tem um livro que eu devo comprar que é o "Estação Carandiru".
AQUI! - E CDs?
FRED - O Message in Box, que é a caixa com todos os CDs do Police. Tem um disco do Superdrag que eu não lembro o nome. E tem o novo do Foo Fighters, que foge da pobreza, da qual já falei pra você.
AQUI! - E nacional?
FRED - Eu gosto muito do "Severino" dos Paralamas, acho um clássico total.
Creditos: Antigo Site Raimundomaniaca...
Obs. Caso alguém queira repassar a matéria não há problema algum, basta citar o Bau do Raimundos como fonte. Obrigado por ajudar a divulgar nosso trabalho.
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